Silêncio

7 ideias muito pessoais sobre o assunto

  1. Tive épocas que eu evitava o silêncio, me dava medo. E outras, como agora, que preciso. Ainda que seja mais comum eu, em busca do silêncio,  colocar meus fones de ouvido pra colocar música instrumental. Eu gosto mais de música instrumental do que de silêncio.  Eu  comecei meditando com o silêncio. Depois de um ano ou dois, passei a fazer umas meditações guiadas, mas duraram pouco. O mesmo  aplicativo que tinha meditações guiadas tinha também música para meditar. E cá estou depois de meia década escutando músicas para meditar. Adoro.
  1. Um dia fui numa exposição da Marina Abramovic, aquela russa performática que fazia coisas bem malucas. Uma das instalações era um fone de ouvido desses antigos, que agora meio que voltaram à moda. A ideia era perceber o silêncio, pois o fone era bem apertado. Pois lá fui eu animado para ouvir o silêncio. E 20 segundos depois daquela sensação o que aparece na cabeça? tugudu guda tudum… uma música, a mais pegajosa, do claudinho e buchecha. O  silêncio perdeu.
  1. Quando a Fal me falou sobre silêncio, o primeiro que me veio não foi um bosque,ou a noite enluarada. Eu fui adolecente nos anos 80. O  que me veio foi Enjoy the Silence do Depeche Mode. E a segunda coisa não  foi de novo o bosque. Foi Sound of Silence de Simon and Garfunkel. Vantagem de ter irmãos mais velhos nos anos 70. Olhando o que acabei de escrever nesses 3 tópicos, vejo como silêncio pra mim é música. Estão como irmãos siameses.
  1. Ok, fiz um esforço agora de “ver” o silêncio atual. Estou em uma mesa, olhando por um terraço, vejo o mar. E onde achei que havia silêncio, ao ver o mar, escuto ao longe as ondas. E olho o céu. Não passam gaivotas agora, em outros momentos vi várias. Mas ouvi? Ao perguntar isso, escuto gaivotas, olho pelo terraço e não encontro nenhuma. Será que esse som de gaivotas surgiu igual a Claudinho e Buchecha, só na minha cabeça? Muito provavelmente, ouvintes.
  1. Existe um silêncio que acho insuportável, aquele feito por alguém, de forma consciente, depois de uma pergunta. Um email não respondido, uma pendência, uma conversa não feita. Eu odeio esses silêncios, porque sofri muito com eles. Ainda  sofro. É a minha impotência. Existem pessoas que preferem o silêncio como resposta. É um silêncio ensurdecedor.
  1. Eu tinha uns 6 ou 7 anos, morava em uma vila de 4 casas. Meus pais (olhem a irresponsabilidade) me deixaram em casa, pra ir ao clube com meus 2 irmãos mais velhos. Iam voltar à tarde, mas era noite e não voltaram. Eu já sabia colocar os discos dos meus irmãos. E gostava de ouvir Mr. Robinson, animadinha, dos mesmos Simon and Garfunkel. E estava ok, apesar de sozinho, de noite, numa vila de 4 casas. Aí tocou (eu já conhecia, mas nunca tinha ouvido sozinho, a noite), a Sound Of Silence. Aquilo me deu medo. Eu tinha medo até de tirar o disco da vitrola. Obviamente não sabia a letra em inglês, aquela melodia, que já conhecia, era bonita, eu sabia que falava de silêncio, (parecido com silence), mas naquele momento, só naquele, eu percebi a situação: e se eu estou sozinho, se eles não voltarem? É de noite, essa música me dá medo e se eu a tirar, ficarei com o silêncio, que também me dá medo. Mais agora. Então eu abri a porta e fui na casa em frente, dos vizinhos portugueses. E expliquei que estava sozinho, que meus pais e meus irmãos não tinham voltado do clube. Eles me acalmaram, mas com cara de preocupados. Não havia celular naquela época. E passado um tempo, acho que não foi muito, mas pra mim uma eternidade, enquanto fingia estar tranquilo jogando um jogo com a filha dos vizinhos, eles aparecem. E levo uma bronca por ter deixado a porta aberta. 
  2. Olhando tudo isso, percebo que meu silêncio está cheio de música. Quando eu morrer, haverá muita música nesse lugar onde vamos. Se o silêncio me alcançar, sempre temos Claudinho e Buchecha. E se a vida é mais densa, darkness, Simon and Garfunkel, Depeche Mode e qualquer instrumental. Silêncio é música pra mim. Descobri agora.

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